quarta-feira, 16 de maio de 2012

Conceitos de Radcliffe-Brown



 A instituição estudada por Radcliffe-Brown é o sistema de parentesco e casamento. Esses sistemas se baseavam no reconhecimento de certas relações biológicas para fins sociais.  Os sistemas incluíam a terminologia de parentesco; as redes de relações entre parentes; o conjunto de direitos, deveres e usos associados a determinados papéis de parentesco; e as crenças e práticas rituais associadas ao parentesco, incluindo, por exemplo, as crenças sobre procriação ou a veneração de ancestrais.

“Radcliffe-Brown concentrou-se em dois aspectos do sistema de parentesco: (1) Os usos que governam as relações entre parentes. (2) Os termos usados para se dirigir a parentes ou fazer-lhes referência. A terminologia de parentesco tinha certa prioridade tanto em lógica como no que se refere ao método. Isso era porque ‘a relação social concreta entre uma pessoa e seu parente, tal como definida por direitos e deveres ou atitudes e modos de comportamento socialmente aprovados é fixada, por conseguinte, em maior ou menor grau, pela categoria a que esse parente pertence.” Pág – 75

“Sociedades como a andanamesa e a dos aborígenes australianos estavam organizadas de acordo com os princípios de parentesco e residência, e os próprios grupos residenciais eram educados nos princípios de sistema de parentesco. Logo, em sociedades desse tipo, o estudo da estrutura social, significava essencialmente o estudo do sistema de parentesco.” Pág. 75

“Todo e qualquer sistema classificatório funcionava segundo uma combinação de três princípios básicos. Em primeiro lugar, irmãos e irmãs compartilhavam de um sentimento de solidariedade e eram tratados como uma unidade pelas pessoas de fora. Isso gerou o princípio de ‘a unidade de grupo sibling’, o qual influenciou a caracterização de parentes. Por exemplo, em algumas tribos sul-africanas eu chamo a minha mãe mma, estendo o mesmo termo às irmãs dela e chamo até ao seu irmão malome, que significa literalmente ‘mãe macho’.” Pág. 75-76




”Em segundo lugar, as sociedades que operam com terminologias classificatórias de parentesco também possuem comumente linhagens – isto é, havia grupos solidários formados pelos descendentes numa linha (reconstituível unicamente através dos homens ou unicamente através das mulheres) de um só ancestral. Os membros da linhagem como siblings, compartilhavam de um senso de unidade; e as pessoas de foram tratavam a linhagem como uma unidade. Isso deu origem ao ‘princípio da unidade do grupo de linhagem’, o qual explicava ainda outras características dos sistemas classificatórios de parentesco.” Pág. 76

“Em terceiro lugar, Radcliffe-Brown descreveu o princípio de geração. Em todos os sistemas de parente4sco, os membros de gerações consecutivas estão distanciados entre si por razões que remontam a necessidade de transmitir cultura e socializar novos membros da sociedade, funções que exigem disciplina e controle. Mas os membros de gerações alternados (avós e netos) tendem a ser ‘amalgamados’. As suas relações são fáceis e igualitárias, e em muitas sociedades existe uma noção de que o neto substitui o avô no sistema social.” Pág. 76

“Esses três princípios refletem, portanto, condições social subjacentes de grande generalidade, gerando os vários sistemas de terminologia de parentesco. A abordagem desenvolvida por Radcliffe-Brown constatou nitidamente como método clássico, no qual as terminologias de parentesco eram encaradas como fósseis, pertencendo a um sistema desaparecido do parentesco.” Pág. 76

“Um dos exemplos clássicos de relações de gracejo foi fornecido por Junod em seu trabalho sobre os Tongas de Moçambique, exemplo esse que estimulou o primeiro ensaio de Radcliffe-Brown sobre o assunto. Entre Tongas existe um relacionamento descontraído e amistoso entre o homem e o pai de sua mãe:
[...]
Por vezes, o malume (irmão da mãe) aponta para uma de suas mulheres e diz ao ntukulu: ‘Esta é a sua esposa. Faça com que ela o trate bem!’ Essa mulher desfruta a situação que acha muito divertida. Faz uma carícia ao ntukulu e chama-o de nikata (marido). O gracejo chega ao ponto de, às vezes, o sobrinho dizer ao tio: ‘por favor apresse-se e morra para que eu possa ter a sua mulher.’ E o malume responde: ‘pretende matar-me com uma pistola?’... Mas toda essa conversa é mero gracejo.” Pág. 77


“Havia relações de aliança ou consociação entre os indivíduos ou grupos que estavam socialmente separados em todos os outros aspectos. Tais relações de consociação foram, por seu turno, classificadas em quatro tipos: (1) as baseadas em intercasamento; (2) as baseadas na troca de bens ou serviços; (3) as baseadas na irmandade de sangue ou instituição semelhante; (4) as que eram na forma de relação de gracejo. Portanto, uma relação de gracejo era identificada como uma de um limitado repertório de possíveis relações entre membros de grupos socialmente separados. Poderia ser encontrada separadamente ou em conjunto com uma ou outra das formas de consociação.” Pág. 78-79

“A análise conclui, com uma generalização. Tanto a conduta brincalhona (gracejo) como a de evitação constituem ‘modo de organizar um sistema definido e estável de comportamento social, em que os componentes conjuntivos e disjuntivos... são mantidos e combinados.” Pág. 79

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