A instituição estudada por Radcliffe-Brown é o
sistema de parentesco e casamento. Esses sistemas se baseavam no reconhecimento
de certas relações biológicas para fins sociais. Os sistemas incluíam a terminologia de
parentesco; as redes de relações entre parentes; o conjunto de direitos,
deveres e usos associados a determinados papéis de parentesco; e as crenças e
práticas rituais associadas ao parentesco, incluindo, por exemplo, as crenças
sobre procriação ou a veneração de ancestrais.
“Radcliffe-Brown
concentrou-se em dois aspectos do sistema de parentesco: (1) Os usos que
governam as relações entre parentes. (2) Os termos usados para se dirigir a
parentes ou fazer-lhes referência. A terminologia de parentesco tinha certa
prioridade tanto em lógica como no que se refere ao método. Isso era porque ‘a
relação social concreta entre uma pessoa e seu parente, tal como definida por
direitos e deveres ou atitudes e modos de comportamento socialmente aprovados é
fixada, por conseguinte, em maior ou menor grau, pela categoria a que esse
parente pertence.” Pág – 75
“Sociedades
como a andanamesa e a dos aborígenes australianos estavam organizadas de acordo
com os princípios de parentesco e residência, e os próprios grupos residenciais
eram educados nos princípios de sistema de parentesco. Logo, em sociedades
desse tipo, o estudo da estrutura social, significava essencialmente o estudo
do sistema de parentesco.” Pág. 75
“Todo
e qualquer sistema classificatório funcionava segundo uma combinação de três
princípios básicos. Em primeiro lugar, irmãos e irmãs compartilhavam de um
sentimento de solidariedade e eram tratados como uma unidade pelas pessoas de
fora. Isso gerou o princípio de ‘a unidade de grupo sibling’, o qual influenciou a caracterização de parentes. Por
exemplo, em algumas tribos sul-africanas eu chamo a minha mãe mma, estendo o mesmo termo às irmãs dela
e chamo até ao seu irmão malome, que
significa literalmente ‘mãe macho’.” Pág. 75-76
”Em
segundo lugar, as sociedades que operam com terminologias classificatórias de
parentesco também possuem comumente linhagens – isto é, havia grupos solidários
formados pelos descendentes numa linha (reconstituível unicamente através dos
homens ou unicamente através das mulheres) de um só ancestral. Os membros da
linhagem como siblings, compartilhavam
de um senso de unidade; e as pessoas de foram tratavam a linhagem como uma
unidade. Isso deu origem ao ‘princípio da unidade do grupo de linhagem’, o qual
explicava ainda outras características dos sistemas classificatórios de
parentesco.” Pág. 76
“Em
terceiro lugar, Radcliffe-Brown descreveu o princípio de geração. Em todos os
sistemas de parente4sco, os membros de gerações consecutivas estão distanciados
entre si por razões que remontam a necessidade de transmitir cultura e
socializar novos membros da sociedade, funções que exigem disciplina e controle.
Mas os membros de gerações alternados (avós e netos) tendem a ser ‘amalgamados’.
As suas relações são fáceis e igualitárias, e em muitas sociedades existe uma
noção de que o neto substitui o avô no sistema social.” Pág. 76
“Esses
três princípios refletem, portanto, condições social subjacentes de grande
generalidade, gerando os vários sistemas de terminologia de parentesco. A
abordagem desenvolvida por Radcliffe-Brown constatou nitidamente como método
clássico, no qual as terminologias de parentesco eram encaradas como fósseis,
pertencendo a um sistema desaparecido do parentesco.” Pág. 76
“Um
dos exemplos clássicos de relações de gracejo foi fornecido por Junod em seu
trabalho sobre os Tongas de Moçambique, exemplo esse que estimulou o primeiro
ensaio de Radcliffe-Brown sobre o assunto. Entre Tongas existe um
relacionamento descontraído e amistoso entre o homem e o pai de sua mãe:
[...]
Por
vezes, o malume (irmão da mãe) aponta
para uma de suas mulheres e diz ao ntukulu:
‘Esta é a sua esposa. Faça com que ela o trate bem!’ Essa mulher desfruta a
situação que acha muito divertida. Faz uma carícia ao ntukulu e chama-o de nikata (marido).
O gracejo chega ao ponto de, às vezes, o sobrinho dizer ao tio: ‘por favor
apresse-se e morra para que eu possa ter a sua mulher.’ E o malume responde: ‘pretende
matar-me com uma pistola?’... Mas toda essa conversa é mero gracejo.” Pág. 77
“Havia
relações de aliança ou consociação entre os indivíduos ou grupos que estavam
socialmente separados em todos os outros aspectos. Tais relações de consociação
foram, por seu turno, classificadas em quatro tipos: (1) as baseadas em
intercasamento; (2) as baseadas na troca de bens ou serviços; (3) as baseadas
na irmandade de sangue ou instituição semelhante; (4) as que eram na forma de
relação de gracejo. Portanto, uma relação de gracejo era identificada como uma
de um limitado repertório de possíveis relações entre membros de grupos
socialmente separados. Poderia ser encontrada separadamente ou em conjunto com
uma ou outra das formas de consociação.” Pág. 78-79
“A
análise conclui, com uma generalização. Tanto a conduta brincalhona (gracejo)
como a de evitação constituem ‘modo de organizar um sistema definido e estável
de comportamento social, em que os componentes conjuntivos e disjuntivos... são
mantidos e combinados.” Pág. 79